quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Dias cinzentos

Em algumas regiões de nosso planeta, em países localizados em latitudes mais extremas, distantes do Equador, é natural que o inverno se faça mais rigoroso. Aí, à chegada da estação invernal, os dias se fazem mais curtos e o céu é, via de regra, tomado de tonalidades cinzas. Os dias se sucedem com poucas variações, melancólicos, morosos. O céu sempre pesado, com suas nuvens carregadas. Nessa época, apontam alguns estudos, aumenta o número de suicídios e os sintomas da depressão. Tomados pela atmosfera triste, pelo clima frio e, naturalmente, mais introspectivo, essas pessoas deixam-se levar sutilmente pela aparente tristeza da natureza, esquecendo-se que logo mais virá a primavera. Nas tradições míticas dos povos nórdicos, onde os invernos são muito rigorosos, imaginavam que a chegada do inverno se dava porque o deus Thor havia perdido seu martelo. Quando o tornava a encontrar, dava-se o início da primavera, da pujança, da alegria e força da natureza. * * * Assim ocorre com nossa vida, habitualmente. Há dias de inverno, cinzas, frios e tristes. São dias em que os desafios se mostram mais intensos, em que as dores, do corpo ou da alma, se apresentam mais rudes e onde também, alguns de nós se deixam levar para estados d'alma tristes e depressivos. Esses dias cinzas são também dias de aprendizado, de conquistas e de amadurecimento. O ciclo da natureza não prescinde do frio do inverno, das mudanças climáticas e do hibernar momentâneo da vida para que reinicie seu ciclo logo mais. Nosso processo de amadurecimento e aprendizado também não pode dispensar dias cinzentos e pesados. São essas horas que nos oportunizam a reflexão que talvez os dias de saúde não nos trariam. É nos momentos de dor que repensamos nossas atitudes e valores, readequando-os de maneira mais sensata e amadurecida. Porém, como na natureza, tudo passa. Dessa forma, à invernia das dores e dos tormentos, outro ciclo de possibilidades e realizações felizes se faz presente. Novamente surgem os dias de primavera em nossa vida. Por isso, não podemos desanimar ou nos deixar levar por processos depressivos, mergulhando em tristezas profundas, perdendo as esperanças como se tudo fosse um doloroso fim. É apenas o ciclo da vida, que ora nessa ou naquela situação, nos dá a chance de crescimento necessário. Como Espíritos imortais que somos, a cada reencarnação, novos desafios são programados pela Bondade Divina, a fim de que aprendamos as Suas Leis de amor e justiça. Portanto, se hoje os dias nos são invernais, se os céus de nossa vida se mostram cinzentos e sombrios, roguemos ao Senhor da Vida que nos conceda força, bom ânimo. Alimentemos nossa fé na oração. Assim que as lições necessárias se concluirem, as flores da primavera serão nossa recompensa, perfumando nossos caminhos e tornando a nos falar das glórias e da Bondade Divinas. Redação do Momento Espírita. Em 18.10.2012.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Conversão

O episódio das três negações de Pedro é muito emblemático. Contudo, antes que ele ocorresse, Jesus cuidou de alertar o Apóstolo. Segundo a narrativa evangélica, pouco antes da prisão do Mestre, deu-se uma interessante conversa. Nela, Pedro foi avisado de que corria perigo moral. Jesus lhe disse que tinha rogado por ele, a fim de que sua fé não desfalecesse. Afirmou-lhe ainda que, quando se convertesse, deveria confirmar seus irmãos. Pedro afiançou ao Cristo estar disposto a segui-lO à prisão e à morte. Então, Jesus lhe disse que, antes que o galo cantasse, ele O negaria três vezes. * * * Essa narrativa funciona como um alerta. Com frequência, ouve-se o discurso de que é preciso e suficiente aceitar Jesus. Que essa aceitação resolve de imediato todos os problemas da vida. E faz cessar as tribulações materiais e morais. Como um passe de mágica, transforma homens em quase anjos. Entretanto, não é tão fácil a genuína conversão. Muitos portadores de convicções apressadas se equivocam quanto a isso. Incontáveis dizem eu creio, mas poucos podem declarar estou transformado. As palavras de Jesus a Simão Pedro são muito simbólicas. Jesus as proferiu, na véspera do Calvário, na hora grave da última reunião com os discípulos. Recomendava ao pescador de Cafarnaum confirmasse os irmãos na fé, quando se convertesse. Acresce notar que Pedro sempre foi o Seu mais ativo companheiro de apostolado. O Mestre, habitualmente, preferia a Sua casa singela para exercer o Divino ministério do amor. Durante três anos sucessivos, Simão presenciou acontecimentos assombrosos. Viu leprosos limpos, cegos que voltavam a ver, loucos que recuperavam a razão. Deslumbrou-se com a visão do Messias transfigurado no Tabor. Assistiu à saída de Lázaro da escuridão do sepulcro. No entanto, não estava convertido. Ainda lhe faltavam os trabalhos imensos de Jerusalém. Carecia de fazer muitos sacrifícios pessoais. Deveria travar lutas enormes consigo mesmo. Somente depois poderia se considerar convertido ao Evangelho e dar testemunho do Cristo aos irmãos. Assim, não basta maravilhar a própria alma para operar-se a necessária conversão ao bem. A aceitação das revelações espirituais não logra promover a imediata transformação de um homem para Jesus. Simão Pedro presenciou essas revelações com o próprio Messias. Mas custou muito a obter tais títulos. A crença não é um passe de mágica, que tudo resolve e transforma. Ela reclama serviço intenso para frutificar. Demanda esforço, reflexões e renúncias. É preciso trabalhar firme para conseguir se converter. Aprender a servir anonimamente e a perdoar. Apenas após longas vivências no bem, o homem estará habilitado para testemunhar sua condição de cristão. Pense nisso. Redação do Momento Espírita, com base no cap. 15, do livro Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 17.10.2012.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Algo grande que sirva para alguém

A moça trabalhava como voluntária numa loja de roupas usadas, um brechó de um hospital. Certo dia, conta ela, adentrou a loja uma certa senhora bastante obesa. Logo a atendente pensou, entristecida: Puxa... Ela não vai encontrar nada na numeração dela... A partir daquele momento, ficou bastante apreensiva, conforme observava a senhora passando de arara em arara, procurando algo. Pensava numa forma de evitar que a cliente se sentisse mal, uma vez que tinha certeza de que não encontraria nada que lhe servisse. Não queria que ela se sentisse excluída e nem que a questão de seu sobrepeso viesse à tona, deixando a estranha sem jeito. Fez, então, uma breve oração, pedindo uma luz para se sair bem daquela situação delicada, evitando que a senhora passasse por qualquer tipo de humilhação naquele momento. Foi quando o esperado aconteceu. A cliente se dirigiu à moça e afirmou, um pouco entristecida e constrangida: É... Não tem nada grande, não é? E a moça, que até aquele instante não soubera o que fazer, abriu os braços de uma ponta a outra e lhe respondeu, sorrindo: Quem disse?? É claro que tem! Olha só o tamanho deste abraço! - E a abraçou com muito carinho. A loja toda parou para observar a cena inusitada e bela. A senhora, pega de surpresa, entregou-se àquele abraço acolhedor, deixou-se tomar por algumas lágrimas discretas e exclamou: Há quanto tempo ninguém me dava um abraço... Depois de alguns instantes, buscando se recompor, ainda emotiva, finalizou a conversa breve dizendo: Não encontrei o que vim buscar, mas encontrei muito mais do que procurava... * * * Inspirados nesta singela passagem, poderíamos perguntar: Será que dentro de nós, procurando nos baús de nossa intimidade, nas prateleiras da alma, também não podemos encontrar algo grande que sirva para alguém? Somos aprendizes, sim. Muito nos falta de bagagem moral e intelectual, mas muito já temos para oferecer. Quem não tem condições de dar um abraço sincero? Quem não consegue alguns minutos de sua semana para dedicar a algum tipo de trabalho voluntário? Quem não está apto a proferir uma palavra de estímulo, um elogio, um voto de sucesso ou de paz? Temos todos algo grande dentro de nós: o amor maior em estado de latência, a assinatura do Criador em nossas almas perfectíveis. O que temos de bom não precisa ser guardado a sete chaves conosco. A candeia precisa ser colocada sobre o alqueire para que brilhe para todos. Brilhe, assim, a nossa luz, sem economia e sem medo. Há tantos que precisam dela... Não deixemos passar um dia sequer sem ter sido importantes na vida de alguém, na história de um ser que respira ao nosso lado. Haverá dia em que finalmente entenderemos o que é viver como irmãos na Humanidade inteira. Que esta pergunta possa ecoar em nosso Espírito durante todo este dia: Será que não temos algo grande que sirva para alguém? Redação do Momento Espírita com base em depoimento anônimo, colhido na Internet. Em 16.10.2012.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Professores

Você recorda o nome de sua primeira professora? Pois é, quase nunca lembramos. Mas, com certeza, recordamos dos nomes dos nossos professores universitários. E não é pelo fato da proximidade de nossa formatura. Nós os lembramos pelo cabedal de conhecimentos, pela experiência e segurança, dentro de sua área de atuação. Nós os recordamos porque partilharam das nossas lutas mais árduas, a fim de conseguirmos o tão ambicionado diploma. Nós os lembramos porque estiveram conosco nas pesquisas e nas orientações particulares. Também porque foram, muitas vezes, os que nos conduziram aos nossos primeiros estágios, ensaiando-nos para a carreira profissional. Alguns nos orientaram em nossas teses e monografias, a fim de alcançarmos as especializações que almejávamos. Temos razão em recordá-los e com gratidão. Entretanto, de nada adiantaria todo o conhecimento e a experiência deles na universidade, se não tivéssemos chegado até lá. E somente chegamos até lá porque em nossa infância, alguém de extrema dedicação nos abriu a possibilidade da leitura, desvendando-nos o alfabeto. Alguém que teve paciência suficiente para nos ensinar a decifrar os códigos da escrita. Que tomou da nossa mão e foi traçando os contornos das vogais e consoantes, a fim de que aprendêssemos a escrever. Essa criatura foi nossa primeira professora. Enquanto brincávamos ou descansávamos após as horas da escola, ela se debruçava sobre livros à cata de contos e histórias para melhor ilustrar o ensino, no dia seguinte. Enquanto nós dormíamos, ela estava criando e confeccionando materiais com suas mãos habilidosas. Eram personagens, gravuras, painéis para compor a próxima aula. Tudo para que o estudo nos parecesse atraente e a escola nos conquistasse. Crescemos. Hoje, quando lemos com fluência, até em outros idiomas, possivelmente nem nos recordamos das dificuldades dos primeiros momentos. Após tantas conquistas e tantos anos passados, é bom nos lembrarmos da nossa primeira professora, aquela que descobriu a terra propícia da nossa riqueza interior e a despertou. Aquela que nos ensinou os sons precisos das letras e como uni-las, a fim de formar palavras. Aquela que nos forneceu as noções básicas das operações aritméticas, a fim de que pudéssemos entender as noções de quantidade, pesos, medidas. * * * Se você tem hoje filho na escola e se emociona quando ele chega em casa, cantando uma pequena canção ou contando uma história, lembre: há uma criatura muito especial que se dedica de forma muito particular a ensinar-lhe muitas coisas, todos os dias. Por isso, da próxima vez que seu filho olhar para uma placa ou painel de propaganda, em plena rua e começar a soletrar, tentando unir as letras para formar palavras e você o olhar com orgulho, não deixe de lembrar do tesouro precioso que é a escola. Mais do que isso, não esqueça de agradecer, de vez em quando, à professora, por essas pequenas grandes conquistas do seu filho. Redação do Momento Espírita, em homenagem à Eugédia Maria Therezinha Venzon Bittencourt. Em 15.10.2012.

sábado, 13 de outubro de 2012

A parábola relembrada

Conta-se que, após ouvir a parábola do samaritano, narrada por Jesus, o Apóstolo Tadeu ficou muito interessado no assunto. Mais tarde, pediu que o Mestre fosse mais explícito nos ensinamentos. Jesus, com Sua peculiar bondade, relatou o seguinte: Um homem enfermo jazia no chão, às portas de grande cidade. Pequena massa popular assistia indiferente aos seus esgares de dor. Passou por ali um moço romano de coração generoso. Apressado, atirou-lhe duas moedas de prata, que um rapazelho de maus costumes subtraiu às ocultas. Logo após, transitou pelo local um venerando escriba da lei. Alegando tarefas urgentes a realizar, prometeu enviar autoridades, em benefício do mendigo anônimo. Quase de imediato, desfilou por ali um sacerdote, que lançou ao viajante desamparado um gesto de bênção. Afirmando que o culto a Deus o esperava, estimulou o povo a asilar o doente e alimentá-lo. Depois dele, surgiu respeitável senhora, a quem o pobre dirigiu comovente súplica. A nobre matrona lastimou as dificuldades de sua condição de mulher. Invocou o cavalheirismo masculino para aliviá-lo, como se fazia imprescindível. Minutos mais tarde, um grande juiz passou pelo mesmo trecho da via pública. Afirmou que nomearia algumas testemunhas, a fim de verificar se o mísero não era algum viciado vulgar, e se afastou. Decorridos ainda alguns instantes, veio à cena um mercador. Condoído, asseverou a sua carência de tempo e deu vinte moedas a um homem que lhe pareceu simpático. Assim, esperou que o problema de assistência fosse resolvido. Mas o preposto improvisado era um malfeitor e fugiu com o dinheiro sem prestar o socorro prometido. O doente tremia e suava de dor, rojado ao pó. Foi quando surgiu um velho publicano, considerado de má vida, por não adorar o Senhor segundo as regras dos fariseus. Com espanto de todos, aproximou-se do infeliz e lhe endereçou palavras de encorajamento e carinho. Deu-lhe o braço e o levantou, sustentando-o com as próprias energias. Conduziu-o a uma estalagem de confiança, fornecendo-lhe medicação adequada. Também dividiu com ele o dinheiro que trazia consigo. Em seguida, retomou com tranquilidade o seu caminho. Depois de interromper-se ligeiramente, o Mestre perguntou ao discípulo: Em sua opinião, quem exerceu a caridade legítima? Sem dúvida, foi o publicano, exclamou Tadeu. Além de dar o dinheiro e palavras, deu também o sentimento, o tempo, o braço e o estímulo fraterno. E para tudo usou das próprias forças. Jesus fitou no aprendiz os olhos penetrantes e rematou: Então, faça o mesmo. * * * A caridade por substitutos é indiscutivelmente honrosa e louvável. Mas o bem que praticamos em sentido direto, dando de nós mesmos, é sempre o maior e o mais seguro de todos. Pensemos nisso. Redação do Momento Espírita, com base no cap. 29, do livro Jesus no lar, pelo Espírito Neio Lúcio, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 13.10.2012.